sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Só queremos quando não temos

Depois de semanas a pensar no mesmo, depois de semanas a me tentar perceber a mim própria, o porquê de tanta dor, tanta tristeza, tanta angustia, finalmente tudo se vai encaixando devagarinho no seu lugar. Uns dias mais leves, outros mais pesados.
 
Percebi que apesar de ser uma pessoa "despachada", prática, optimista, e bem disposta, quando algo acontece que me afecte profundamente, preciso de chorar muito, preciso de entregar à dor, ao desgosto, preciso de dizer mal dizer a minha vida, revoltar-me com o mundo. Preciso de ir um bocadinho lá a baixo para ganhar impulso para voltar bem para cima. Nem que seja 1, 2, 3 dias apenas...
Há coisas que precisam de ser choradas, vividas, é quase uma espécie de "luto". Sim, é quase isso que sinto, uma "perda". Mais que não seja, e na melhor das hipoteses, perdi o "direito" de ter a ideia cor de rosa que tinha. Sei que é cedo para dizer que é tudo mau, que nunca vou conseguir. Mas "ganhei" a certeza de que, se eventualmente conseguir, vai ser complicado, no verdadeiro sentido da palavra vai ser um alto risco.
Sinto que perdi aquele sonho longinquo... perdi um bocadinho aquele meu "um dia eu vou...".
 
Mas recuando muito, muito tempo atrás, dou conta como tudo isto é muito ambiguo. Como as coisas podem mudar e como avida pode ser irónica.
Porque se bem me lembro em pequenina eu dizia que nunca iria ter tal desejo, eu só pensava "´Xiça! só chatices! Deve ser tão fixe ser adulta sem ninguém a depender de mim, fazer o que eu quiser, à hora que quiser, viajar muito. Nããã, não vou ter vida para essas coisas!"
Mais tarde dizia "Ok, um dia... existirão outras opções que não as naturais, existirão as 100% burocraticas, até porque a via natural de certeza que doi "pa caraças"! E as instituições agrdecem."
Mais crescida dizia "Pronto é lei da vida seguir a ordem natural das coisas, um dia... posso ir pela via natural, no entanto quero ter as duas "experiências" natural e burocratica."
Entretanto com "vida feita" entrei numa de "se tiver de ser será", meti-me a jeito meses, anos, e nada, nunca pensei no assunto "à séria", nunca me preocupei, achava estranho nunca ter acontecido nada, mas não era algo que me ocupasse o cerebro mais do que 1 ou 2 min, mas a ideia estava formada "cá para mim há aqui qualquer coisa de errado".
Depois houve o ultimato "é ou não é agora?" pensou-se muito no assunto e não era já, não era, não estava para já nos meus planos, os planos eram "um dia..." e eu tinha muito tempo pela frente. "Um dia..." sempre quis dizer, "eu quero, quero mesmo, mas não já, daqui a uns anos, até porque tenho tempo".
 
Depois muita água correu, muita coisa aconteceu, e durante muita reviravolta da vida o "um dia..." ficou completamente esquecido.
 
As coisas acalmaram, a vida vai-se endireitanto e o "um dia..." voltou. Voltou de tal forma que catucava o meu cerebro muitas vezes, fazia-me sonhar. E apenas saber que o "um dia..." era uma hipotese real deixava-me feliz. Bastava-me saber que essa hipotese existia para estar bem.
 
Até que chegaram as dores, aquelas fortes, fortes (porque das fracas sempre tive), os medicamentos pra as dores, os exames, e o diagnóstico - três problemas, um com tratamento total, outro com possivel tratamento, e outro se qualquer tipo de resolução.
 
E o "um dia..." tal e qual como sonhava, como idealizava puff foi-se... aquele "um dia...", aquele mesmo, não há mais...
 
O "um dia..." está-se a tornar numa urgência, sei bem que o "um dia..." ou se torna mais ou menos num "já" ou perde o prazo de validade... Quanto mais tempo passa, existem menos hipoteses de dar certo.
 
E agora eu penso, é castigo? É castigo por achar que tinha todo o tempo do mundo?
Em parte sei que não, até porque já nasci assim...
Agora que me foi tirada a faculdade de poder sonhar com tudo cor de rosa, é que eu tenho noção do quanto eu quero, agora se me dessem a escolher entre o que estou a passar agora e um "vamos a isto agora?" eu ia a isto agora, sem sombra de duvidas!
 
Portanto eu sou uma prova viva que só queremos (efectivamente) quando não temos!

2 comentários:

  1. Acho que por pior a privação que te possa passar pela frente há sempre que arranjar maneira de contornar a situação. Sei que isso é algo muuuuito complicado de conseguir dar a voltar, é algo que deve doer a valer, é algo que pode parecer o fim do mundo! Mas há soluções, há maneiras de contornar e depois de teres ido a baixo é sempre a subir! Uma coisa é certa: Não desistas nunca da tua felicidade!!!

    Beijinho*

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